Sunday, February 5, 2023

Idas & Vidas



E se não houver um depois, José, e Agora? Terá valido à pena tanto o teu esforço sacrificante? Reles somos, homem-fabril, e você marcha, José,  rumo àquela Fábrica, cadafalso pós-moderno post-mortem. A mesma que gera o calor que faz teu sangue entrar em ebulição e causará a pane no teu sistema individual de saúde. Que um dia te trocará como peça quebrada, descartado feito uma engrenagem solta. E assim foi, porque sempre será assim neste Sistema onde tudo é Capital, inclusive a pena. Morre-se pelo lucro de ter vivido, e a que custo?

Quem te faz esses questionamentos, já tão próximo do teu fim, sou eu:primogenitus tuus, ille qui scribit, direto aqui do outro lado da página em branco. Que revejo ainda tua vida se acabar com as mesmas lágrimas nos olhos, ainda que anos já tenham se passado. De além tu, vejo teu fim assim como vi também o começo. Ou poderia tê-lo feito se assim quisesse a imaginação. 

Já flutuas invisível além do Tempo, sobre a casa do lote 13 naquela quadra esquecida da Company Ghost Town. Lote que ficava precisamente abaixo da constelação do Cruzeiro do Sul. Exato lugar que marca o término, nessa tua vida-jornada, da navegação por mares mais calmos no Espaço-Tempo da jornada de vida.

A casa está irreconhecível. Ainda assim sei que consegues ouvir os ecos das risadas e choros em todas as memórias das histórias vividas ali. Illi aurea tempora. Bem quando muito do pouco que entendíamos do todo de tudo ainda parecia fazer algum sentido. 

Vozes alarmadas e um bip-bip funesto que indicam a proximidade da linha-reta-achatada-e-final cortam a conexão com as lembranças. Mesmo que não haja um além daqui, o que foi até ali vivido junto a todos os teus, espero que sintas que foi muito mais do que será vivido e sentido por muitos. O ar se esvai. O ar se esvai dos pulmões pela última vez. Tua linha reta final, plana neste plano.  Vade cum angelis, capitanee.



 

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