Monday, August 13, 2018

Alguns trocados de magia naquela esquina

Josephine Wall: Captura del deseos

Idas e vindas Bellhell do céu! Não escolha seu caminho com sabedoria, apenas deixe-se ir/fluir e sinta como o Outro que é/está em ti pode entender muito mais do que seus olhos podem ver ou seus ouvidos conseguem ouvir. Um sol para cada um, lei máxima do mês de julho na capital onde o rio-mar carrega em suas correntezas almas e destinos.  

Uma ida ao posto de gasolina, para comprar mais "golpes de sorte de filtro vermelho". Na caminhada de volta para casa, travessia na faixa, caminhos que se cruzam. Aos pés do Grande Ben, símbolo de um império de outrora hoje em ruínas, mais precisamente na encruzilhada da travessa Humaitá com a Pedro Miranda, uma venezuelana implora por migalhas/trocados cercada por seus niños. Me pergunto se aquela senhora esteve ali esse tempo todo.

Como posso não tê-la visto na caminhada de ida? Sentada ali, num calor opressor, vento e mormaço de chumbo. Aquela figura de uma força esplêndida, marcada em cada ruga do rosto moreno e sofrido. Rugas que ilustram os caminhos tomados até ali, fugindo do Cavaleiro Fome e de um país destroçado pelo regime de homens armados até os dentes, que se alimentam dos sonhos de um povo e nele vomitam miséria. 

Jornada infausta até aqui. Uma sacola gasta de pano nas costas, pertence algum senão algumas roupas e o sopro de vida. Companheiro de vida segurando sua mão, na tristeza e na tristeza até que a morte os separe. Seus niños vem junto, cruzando fronteiras, poeiras, rios.

Quando meus olhos leem o tosco cartaz de papelão que ela segura, em que está escrito com uma letra de forma muito caprichada, que ela precisa de algum dinheiro para comprar comida, a Força guia minha mão para o bolso esquerdo da bermuda. Uma velha nota de R$5 que sequer sabia que tinha, o pouco que para muitos como aquela senhora é o tudo daquele dia.

Entrego-lhe o dinheiro e ela me sorri com um "Gracias". É quando dois sujeitos passam por nós fazendo comentários sobre os estrangeiros que são a nova praga que se alastra pela cidade, trazendo consigo doenças e todo tipo de sujeira. Rosnando que o (des)governo devia fazer algo à respeito.  

Sei que ela não entende o que eles diziam, mas sente a força do desprezo que a ignorância é capaz de conjurar. Um deles empurra uma das crianças dela, que brincava com os irmãos na calçada. O tempo se transforma, se distorce e um átimo de segundo dura para sempre. O olhar daquela mãe atinge o sujeito com uma lufada de vento mágika. A luz do sol me cega e, ainda assim, consigo enxergar projetando-se acima dela uma uma entidade ancestral, de cabelos longos e negros esvoaçantes e olhos de um brilho cósmico/kármico. 

O sujeito tropeça e cai, batendo a cabeça e ficando desacordado. O amigo em desespero tenta acordá-lo enquanto várias pessoas vão se juntando para ver o que se passa. Olho para a senhora assustado e recebo de volta o mesmo sorriso de antes. Então o vento-kaos sussurra nos ouvidos d'Outro que há em mim: "Crea en las brujas, las hay". Deixo escapar uma risada e sigo meu caminho... 










No comments:

Post a Comment

Nas asas mágicas dos sonhos

  Mariposa-bruxa (Ascalapha odorata) – Imagem Canva Pró. "Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!",  dito popula...