Mariposa-bruxa (Ascalapha odorata) – Imagem Canva Pró. |
"Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!",
dito popular castelhano
Elas sempre preferiram viajar à noite, longe dos olhares de incompreensão e de julgamento
Guiadas pela luz do Espelho da Deusa-mãe e saltando pelos rastros das estrelas
Belas e velozes tomam as formas de criaturas da noite que são protegidas pelas sombras
Não voam em vassouras porque tem as asas da brisa noturna
Transmorfas elas mudam quando precisam, ora pássaros, noutras insetos
Mas sempre ocultas pela penumbra da noite, entre sonhos e ilusões
Então como, Elvina, acabastes perdida e presa, pobre borboleta-bruxa da noite?
Fostes traída pelo inverno, não é assim? Os ventos mudam e as nuvens encobrem Luna e sua luz guia das crias da noite
Frágil e bela, acabou perdendo-se e pousou na parede de um quarto qualquer
E se esse for o lar de um dos que não enxerga a magia das coisas e queima o que devia encantá-lo?
Dos que estão presos no horror das crenças limitadas, que julgam e discriminam aquilo que não entendem
Se matam uns aos outros em nome daquilo que dizem ser deus, o que não farão contigo, filha da natureza?
Sei que ainda podes ouvir os gritos das milhares de irmãs que foram caçadas
Que morreram queimadas nas fogueiras do ódio e da incompreensão de uma fé inventada e manipulada
A luz do quarto é acesa e agora pode ser tarde demais para ti
Um sujeito adulto para no umbral da porta do cômodo e olha fixamente para ti
Estás pousada e inerte, com tuas asas marrons contrastando com o branco da parede
O sujeito se aproximando a passos lentos, ergue os braços com as mãos espalmadas em tua direção
Sei que sentes o impulso de voar e fugir, mas também tem aquela aura emanando dele
A sensação de que ele não te fará mal algum caso venha a tê-la entre as mãos
E assim acontece quando tentas voar e ele apenas te segura tentando não machucá-la
Ele então caminha em direção à janela mais próxima do quarto, que está aberta e mostra o céu noturno que enfim parece estar abrindo, revelando as estrelas
Prestes a abrir as mãos e te soltar para o ar livre do manto da noite, podes sentir que ali há um dos que ainda veem e creem na magia que há nas coisas
Um viajante dos sonhos, daqueles que fazem da jornada da imaginação um seu verdadeiro ofício
Já livre no céu noturno, ouves ele dizer num tom de voz baixo e suave “voa, menina, voa; vai ficar tudo bem”
Teu bater de asas poderia causar um tsunami no outro lado do mundo, ao invés disso trará bons sonhos a quem te libertou e todos aqueles que ainda sentem a magia dos dias
Quem sabe não os encontre vagando pelo Sonhar e acabe inspirando histórias, canções ou mesmo poemas como este
J.K. Coutinho